terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"Você acha que pode julgar alguém? Você acha que tem todas as informações para tal? Você acha que tem a competencia?? Você consegue se ver verdadeiraqmente pra entender o significado da amizade? Você consegue amar??? Quem é o miserável??? Como há a separação entre miserável, juiz e mazelado na humildade???" - questionário passado em atividade em sala - 10º p. de Direito.

Um presente !!! AS MISÉRIAS DO PROCESSO PENAL - CARNELUTTI

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Não se pode fazer uma nitida divisão dos homens em bons e maus. Infelizmente a nossa curta visão não permite avistar um germe do mal naqueles que são chamados de bons, e um germe de bem, naqueles que são chamados de maus. Essa curta visão depende de quanto nosso intelecto não está iluminado de amor....

A verdade é que o germe do bem em qualquer um de nós, não só nos delinquentes, está aprisionado. Há aqueles que tem mais, há aqueles que tem menos; mas nenhum de nós tem o espaço que deveriamos ter. Cada um de nós é prisioneiro enquanto fechado em si, na solicitude por si, no amor de si.

O delito não é mais que uma explosão de egoismo, na sua raiz. O outro não importa; o qu eimporta somente, é o consigo. Somente abrindo-se para com o outro o homem pode sair da prisão. E basta que se abra com outro, para que entre pela porta abera a graça de Deus.
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O encarceirado é, essencialmente, um necessitado. A escala dos necessitados foi traçada naquele sermão de Cristo, referido no cap. 25 de Mateus: famintos, sedentos, despidos, vagabundos, enfermos, encarcerados; uma escala que conduz ao meio animal da essencia da necessidade física à necessidade essencialmente espiritual; o encarceirado não tem necessidade nem de alimento, nem de roupas, nem de casa, nem de medicamentos; o unico remédio, para ele é a amizade.

O nome advogado soa como um grito de ajuda, "Advocatus, vocatus ad", o "chamado a socorrer"; então o advogado é aquele, ao qual se pede em primeiro plano, a forma essencial de ajuda, que é sim, propriamente, a amizade.

Aquilo que atormenta o cliente e o impede de pedir ajuda é a inimizade. As causas civis e as causas penais sao fenômenos de inimizade. A inimizade ocasiona um sofrimento, ou pelo menos, um dano com certos males, os quais, tanto mais quando nao são descobertos pela dor, minam o organismo; por isso da inimizade surge a necessidade da amizade; a dialética da vida é assim. A forma elementar da ajuda, que se procura na guerra, é a aliança. O conceito de aliança é a raiz da advocacia.

Companheiro, de "cum pane", é aquele que divide conosco o pão. O companheiro se coloca no mesmo plano daqueles aos quais faz companhia. A necessidade do cliente, especialmente do acusado é isso; de um que se sente ao lado dele, sobre o ultimo degrau da escada.

A essencia, a dificuldade, a nobreza da advocacia é esta: sentar-se sobre o ultimo degrau da escada ao lado do acusado.
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O encarceirado, as pessoas não sabem e menos ainda ele próprio o sabe, é faminto e sedento de amor. a necessidade de amizade provém de sua desolação. O que o defensor deve possuir antes de tudo, a tal fim, é o conhecimento do acusado;não como médico, o conhecimento fisico, mas o conhecimento espiritual.

Conhecer o espírito de um homem quer dizer, conhecer sua história; não é somente conhecer a sucessão de fatos, mas encontrar o fio que os liga.

É de ficar sem respiração "Quem é de vós sem pecado, atire a primeira pedra"! Necessita para sentir-se digno de punir, estar sem pecado. e uma vez que o pecado não é mais que o nosso "não ser", aquilo que "precisa ser", deve-se em plenitude, sem deficiencias, sem sombras, sem lacunas, em suma, necessita não ser parte para ser Juiz.

Ao total, nenhum homem, se pensasse no que ocorre para julgar um outro homem, aceitaria ser juiz.
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O juizo, o verdadeiro, o justo, o juizo que não falha está somente nas mãos de Deus. Tenham ao menos a consciencia de que quando julgam , o fazem as vezes de Deus.

O maior dos advogados sabe não poder nada frente ao menor dos juizes; entretanto, o menor dos juízes é aquele que o humilha mais.

Aqueles que continuam a considerar a pena, segundo uma forma célebre, como um mal que se impõe ao delinquente pelo mal que ele causou, ignoram ou esquecem aquilo que Cristo disse a propósito do demônio que não serve para expulsar o demonio: Não é com o mal que se pode vencer o mal.

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Cada um de nós está fechado em uma jaula que não se vê. Não nos parecemos com os animais porque estamos na jaula, mas estamos na jaula porque nos parecemos com os animais. Ser homem não quer dizer não ser, mas poder não ser animal. E este poder é o poder de amar.

AS MISÉRIAS DO PROCESSO PENAL - CARNELUTTI

Um comentário:

  1. "Ser homem não quer dizer não ser, mas poder não ser animal. E este poder é o poder de amar."

    Muito bom Robertinha...Ótima mensagem... Poder&Amor... Uma boa questão a ser pensada e re-pensada!!! bom dia

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